O capitalismo e a carnificina da pandemia brasileira


 

O capitalismo e a carnificina da pandemia brasileira

Tomemos por base a seguinte assertiva: é a classe trabalhadora que tem sido massacrada pela pandemia do COVID-19. São os pobres que têm sido especialmente atingidos pelas mortes, que decorrem das más condições de atendimento no sistema de saúde. E agora, naquilo que se convenciona chamar de segunda onda, com mais intensidade, os mais jovens. Em que pese a heroica atuação dos profissionais de saúde.

O que revela essa mascarada condição, em geral, é a necessidade de quem recorre ao sistema público de saúde.

No dia 10/12/2020, a imprensa do litoral paulista trouxe a público o caso de Valdemir Salazar, de 55 anos, que deixou de receber assistência emergencial por falta de oxigênio, na UPA da zona leste da cidade de Santos, SP.

Valdemir, felizmente, superou esse suplício e sobreviveu para relatar o caso. Porém, essa tragédia que encontramos no sistema público de saúde e que é imposta pela ganância capitalista para obtenção de lucros, não é um caso esporádico, como sabemos.

Os trabalhadores se deparam com essa situação na esmagadora maioria das vezes em que necessita de recorrer aos socorros de saúde.

Para o capitalismo, o SUS é mais um número, um custo financeiro que precisa ser reduzido para que os lucros do capital sejam elevados. Essa é a lógica do capital. Para os banqueiros, investidores, donos do capital, a saúde pública representa aquele custo que é retirado de seu lucro, na forma de tributos.

Por essa razão, os detentores do capital se movem para acionar os seus representantes, ocupantes do poder, para alterar as normas e ajustá-las conforme o seu interesse. Bolsonaro, Mourão, Paulo Guedes, Pazuello e Ricardo Salles, no momento, são os maiores expoentes desses interesses da burguesia.

Em 28/12/2020, os números da pandemia, como reflexo da política negacionista que persiste, são reveladores em termos de acúmulo de mortes decorrentes da COVID-19. No estado de São Paulo: Campinas, 1.448 óbitos; Americana, 208; Santa Bárbara D’Oeste, 220; Rio Claro, 163; São Carlos, 72; Jundiaí, 477; Sorocaba, 560; São José do Rio Preto, 908.

Os números são frios, pois, não revelam os rostos das vítimas do descaso. Não revelam o drama das famílias dos trabalhadores que perderam seus parentes.

 Por qual razão os trabalhadores morrem. Morrem principalmente por falta de atendimento adequado. Dificilmente morre um rico. Dos integrantes do governo federal que pegaram COVID-19, nenhum morreu. Por isso Bolsonaro diz que é só uma gripezinha. Eles têm todos os recursos para o atendimento deles e sobrevivem porque tem todo o aparato à disposição deles. Só morre pobre porque os hospitais de pobres não têm os mesmos recursos que as instituições privadas detém.

Bolsonaro declara que não vem interferindo na ANVISA, para manipular os prazos das vacinas, da mesma forma que sua família negou ter aparelhado a ABIN para a defesa de Flávio Bolsonaro.

A previsão é que o mês de dezembro, de 2020, seja o último pagamento para o auxílio emergencial. Com o encerramento daquele que já foi de R$ 600,00, os desempregados que receberam esse auxílio, ficam novamente desamparados e entregues à própria sorte.

Na contramão disso, a economia capitalista vai muito bem, conforme anunciado pela imprensa burguesa. A economia no setor de vendas on-line cresceu 44,6%.

Os números da economia capitalista durante a pandemia são extraordinários. A empresa chinesa Alibaba, do magnata Jack Ma, perdeu 116 bilhões de dólares, em razão de investigação por prática de monopólio e não por qualquer interferência da pandemia.

Observe-se, nesse cenário, que a dívida pública federal, em 28/10/2020, chegou a R$ 4,526 trilhões. Mais de uma fonte revelam que esse valor representa entre 93 a 96% do PIB brasileiro.

Em setembro de 2020, o IBGE apontava o número de 74,4 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho (número de desempregados e desalentados). Enquanto, em 28/11/2020, a taxa de desemprego formal indicava o índice recorde de 14,6%, no trimestre encerrado em setembro/2020. Esses mesmos números revelam que 1 a cada 5 pessoas pretas estão sem emprego. Pretos e pardos representam 12,6% e 50,5% dos desocupados formais.

Em 28/12/2020, a imprensa mineira aponta que os preços dos gêneros alimentícios nas cidades do interior subiram mais que os preços na capital. Em Montes Claros, aponta-se o frete dos produtos que vêm da capital mineira como principal fator, contribuindo em 11,26% de janeiro a agosto.

O IPCA de novembro é o maior desde 2015 (0,89%), sob a influência dos alimentos e do combustível.

A imprensa carioca chega a noticiar, em 09/09/2020, que o pacote de arroz de 5Kg, chegou a aumentar 320%, chegando a custar mais de R$ 40,00.

A última novidade é que a Petrobrás elevará em 4% o diesel e 5% a gasolina nos próximos dias.

Embora poucos tenham dado conta, a Petrobrás se desfez de 4 (quatro) campos terrestres de petróleo (Conceição, Quererá, Fazenda Matinha, Fazenda Santa Rosa), localizados na bacia de Tucano, próximo a Salvador, na Bahia, por míseros R$ 15 milhões (US$ 3,173 mi), para a empresa Eagle Exploração de Óleo e Gás Ltda. Trata-se de mais um assalto ao patrimônio nacional, a exemplo do que foi feito com a Embraer, no malfeito negócio com a norte americana Boing.

Em reunião no dia 30/11/2020, a diretoria da ANEEL definiu reativar a cobrança da energia elétrica por bandeiras tarifárias, estabelecendo a bandeira vermelha em dezembro/2020, ao custo de R$ 6,243 para cada 100 Kw/h, jogando o custo da crise da pandemia sobre os trabalhadores.

Note-se que a CEMIG declarou um lucro líquido de R$ 545 milhões, somente no terceiro trimestre de 2020. Esse dado revela que os capitalistas tem lucrado violentamente durante a pandemia e na conta do sofrimento do proletariado.

A bolsa de valores brasileira acumulou uma subida de 17,7%, até novembro/2020. A maior alta desde outubro/2002.

O paradoxo de todo esse cenário, ainda, retrata a sonegação de tributos, conforme mencionado pela imprensa baiana, que menciona a ocultação de R$ 50 milhões por parte de uma mesma família do ramo atacadista de alimentos, oriunda de Salvador e Santo Antônio de Jesus, na Bahia. Pratica comum e inerente à classe dos detentores do capital, que além de explorar a força de trabalho do proletariado, ainda lesa o Estado por diversos mecanismos de desvio financeiro, burlando normas do próprio Estado.

Por fim, um estudo chamado de “Desigualdade Global”, vinculado ao grupo Folha de São Paulo, informa que “os super-ricos no Brasil lideram a concentração de renda global”. O que não é exatamente uma surpresa, considerando a voracidade capitalista por lucros, especialmente, no atual estágio em que temos no comando dos negócios, representantes do capital com enorme vocação à rapinagem.

Diante desse panorama, coloca-se à direção socialista revolucionária da classe trabalhadora a necessidade de implementar esforços no sentido de reconstruir a organização massiva do proletariado, forjando um instrumento eficaz de organização e luta, que seja capaz romper o ciclo de avanços da extrema direita, com a ilusão do reformismo político que tende a se aliar à direita que se encontra no PMDB, PSDB e DEM.

A tarefa atual é a construção e o fortalecimento de um instrumento independente da burguesia como forma de emancipação

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